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26 de agosto de 2011

Arte de Sangue - Capítulo 01

Como eu já prometi, hoje começaria a escrever a história. Promessa é dívida.

Também como já dito anteriormente, é bem provável que nada disso de certo.

Sem mais enrolações:



Capítulo 01
Tabernas e Diálogos

   Era mais uma noite florentina como outra qualquer, ou pelo menos deveria ser caso eu não decidisse trabalhar. Na noite anterior eu estava na Taberna de Agliardi, relaxando, mas também procurando um novo trabalho, sentado na primeira cadeira a direita do balcão, com uma onipotente caneca de vinho, conversando como taberneiro.

   - Está sabendo que os Médici estão pensando em aumentar os negócios? - me diz o taberneiro.

   - Não estava sabendo de nada não. Porém, que negócios exatamente? - pergunto.

   - Não sei ao certo, mas ouvi das bocas dos frequentadores de minha taberna que o patriarca da família está pensando além do negócio de produtos medicinais e artes.

   - Mas saberia dizer exatamente que outro negócio ele estaria pensando? - continuo a indagar.

   - Pelo que meus ouvidos me contaram, ele está fazendo negócios com um sultão de algum desses países muçulmanos em troca de alguns guardas pessoais.

   - Isso não faz muito sentido, por que alguém tão poderoso como Lourenço de Médici buscaria guardas pessoais fazendo acordo com um sultão tão distante destas terras?

   - A explicação sobre este caso é que me faz desacreditar em tais boatos. - fala o taberneiro enquanto passava um pano em seu lustroso balcão. - Dizem que Lourenço, o Magnífico...

   - Ninguém é tão magnífico aos meus olhos. - eu disse. - Mas prossiga com sua explicação.

   - Como eu ia dizendo, dizem que Lourenço está criando também um sistema de justiça, no qual ele pretende limpar alguns criminosos em troca de dinheiro e prestígio.

   - Tal história me parece um absurdo, não tem coerência, não faz sentido que um Médici faça tal negócio.

   Quanto falo isso um homem senta-se no balcão, na cadeira ao meu lado. De vestes de seda, digna de membros da burguesia, de cores azul com detalhes em dourado, bem possivelmente fios de ouro, outros detalhes também de cor púrpura, tecidos de tal cor eram caríssimos, devido a raridade da matéria-prima para se tingir uma roupa, tornando-a em alguns lugares mais valiosa que o próprio ouro, possui uma tira de couro extremamente rebuscada de enfeites cruzando seu corpo e prendendo perto da cintura um livro, demonstrando assim o poder intelectual de tal personalidade.

   - Pois acredite meu caro amigo. - disse o homem. - Os Médicis não são mais os mesmos, estão fechando negócios com pessoas de fora da nossa Igreja.

   - E quem és tu? - pergunto.

   - Creio que um verdadeiro cavaleiro antes de perguntar o nome de alguém, antes se apresenta. - retrucou o esnobe desconhecido.

   - Sou Antonello Pontarolo, filho de Alviero e Placida. Nascido e criado aqui mesmo em Florença.

   - É um florentino também. Sou Bramante, o arquiteto mais adorado pelo nosso papa, Julio II.

   -  Desejas alguma bebida em especial senhor Bramante? - rapidamente oferece o taberneiro.

   - Traga seu vinho mais velho, quero apreciar o sabor. - responde Bramante.

   - Mas o que lhe garante que os boatos sobre os Médicis são verdadeiros? - volto a perguntar sobre o assunto anterior. - Para mim ainda soam falsos e só acreditarei vendo com meus próprios olhos.

   - Eu, Donato Bramante, vi com esses olhos que agora lhe observam, escutei com esses ouvidos que agora lhe escutam, sou testemunha do que Lourenço de Médici está fazendo. Dou-lhe minha palavra, a palavra de um homem vale mais que seu sangue.

   Alguns homens que se encontravam na taberna começaram a sair e o local foi ficando vazio, e por fim restaram apenas eu, Bramante, o taberneiro e alguns bêbados que rastejavam-se pelo assoalho, já sujos e com as roupas com um tom avermelhado devido ao vinho derramado nas mesmas.

   - Não entendo o porque a minha taberna esvaziou tão cedo, será que a bebida está ruim? - reclamou o taberneiro.

    - Realmente, pedi-lhe o seu vinho mais velho, esperando ser algo bom, mas trouxe-me vinagre. - reclama Bramante.

   - Não pode ser, meus vinhos são todos de ótima qualidade, ninguém tem a permissão de falar mal de minhas bebidas. Sou homem certo, não vendo porcarias em meu estabelecimento, tenho um nome para ser honrado. Tais absurdos que fala sobre minha bebida me ofende. Não serás bem vindo aqui novamente Donato Bramante, independente de seu nome e fama.

   Bramante levanta-se lentamente com um pequeno sorriso de canto de boca e retira-se do estabelecimento mais vagarosamente ainda.

   - Meu estabelecimento pode não ser tão luxuoso para receber grandes nomes como esse arquiteto esnobe, só recebo bêbados, bandidos e desolados, porém o que sirvo aqui é de qualidade tão alta quanto qualquer outra taberna de burgueses em outro canto de Florença.

   - Sim caro amigo, venho aqui quase todos os dias e sei o que vendes aqui. Posso garantir-lhe que sua bebida é boa, principalmente depois da décima caneca. - respondo tentando animar meu amigo taberneiro.

   - Aprecio muito sua amizade Antonello. Sabes que sempre será bem acolhido se precisar de algo.

   - Mas agora preciso me retirar, pois acho que encontrei o trabalho que estava procurando. - digo enquanto deixo algumas moedas no balcão, ajeito minhas coisas e me retiro do estabelecimento. - Até a próxima, bem provavelmente amanhã de noite novamente.

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